Ouça bem esse barulho e pense quantas vezes viu uma BMW M6 Frozen Black acelerando por ai. Pois é exatamente o barulho, a movimentação, o aumento da procura e dos eventos que chamaram a atenção da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) para os track day's.
Os primeiros burburinhos de track day que comecei a ouvir, datam de 2003 no Rio de Janeiro pelo pessoal da Racecars e Oktaneclub. Já tinha ouvido falar de algumas voltas no autódromo mas nada aberto para quem simplesmente tem carteira de motorista, um carro em condições boas (pneus, suspensão, freios) e pouco juízo. Sonhava com essa possibilidade desde as clássicas etapas anuais de Subida de Montanha no Pico do Jaraguá organizado pelo Automóvel Clube. A possibilidade de acelerar na pista me interessava muito, afinal, quando era pequeno sonhava com velocidade vendo o Senna arrebentando a galera no Autódromo de Interlagos.
Em 2007 aqui em SP aconteceu o primeiro Track Day NDA Racing. Era estranho pensar em tantos fatores como segurança, equipamentos e outras coisas que envolvem um carro em alta velocidade mas isso não é nem o começo. Eles sonhavam como eu também naquele momento, em tornar possível entrar na pista. Da para dizer que foi um sucesso e depois disso houveram muitas edições e sempre aperfeiçoadas. O formato de baterias por potência de carros, adesivos de identificação para os novatos, o briefing, a vistoria de luzes, pneus, vazamentos e também o acompanhamento nas primeiras voltas por quem já tinha alguma experiência, tornavam plenamente possível a realização de um evento com o máximo de segurança que podia ser dado aos condutores que simplesmente portavam a carteira B. Ainda o evento sempre foi acompanhado por duas ambulâncias com médicos e socorristas bem de perto além do experiênte Sr. Ernesto orientando os pilotos e dando punições aos exageros.
Ao longo desses anos, outros track day's começaram a ser organizados pelo Brasil. Curitiba, Londrina, Cascavel, Velo Park, Santa Cruz do Sul, Brasília, Goiânia, Caruaru, Fortaleza, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Piracicaba, Indaiatuba. Só nessa lista são pelo menos outros 14 autódromos realizando esse tipo de evento. Além de outros eventos que voltaram a se movimentar como pro-solo, hot lap e novamente subidas de montanha que haviam se perdido no tempo.
O primeiro contato de um condutor que gosta de automobilismo com a pista transforma quase instantâneamente em um hábito. Não há como ficar inerte e normalmente a reação é a contagem regressiva para o próximo evento o quanto antes.
O track day também abre portas para esses motoristas se envolverem com automobilismo como é o caso de Carlos Gomes que montou seu 147 para andar em track day e hoje corre na Classicos de Competição, ou Plautos Lins que começou andando com seu Polo GTI e acabou na Copa Mini-Challenger.
Também como já foi constatado por todos os organizadores, acidentes acontecem mas com baixa frequência nos track day's. Afinal, cada um está usando normalmente seu carro do dia-a-dia. Imagina o maridão chegando com o seu Voyage para a esposa falando que deu uma raladinha no domingo numa barreira de pneus, dentro do autódromo. É para dormir no sofá até a próxima era glacial. Sendo também constatado que não houve uma única vez algum acidente com vítmas fatais.
Outra vantagem dos track day's é que eles começaram em alguns lugares, de certa forma a subsidiar os valores para os campeonatos regionais, dos quais já alugavam a pista para o dia completo mas usavam apenas uma parte. Os track day's começaram a ocupar o espaço restante. Com uma inscrição de baixo valor, isso já ajudava a dar uma sobrevida aos campeonatos de Marcas e Pilotos pelo Brasil afora.
Mas se há tantas vantagens na realização de um track day. Por que tanto barulho com a nova resolução da CBA sobre estes eventos?
O regulamento está no site da CBA. Pode ser acessado diretamente neste link.
Aqui vou colocar minha opinião pessoal sobre cada trecho do regulamento imposto pela CBA.
O track day já possui regras comuns de conduta como não ultrapassar em curvas, não disputar posições, afinal, não existe posição, não é uma corrida. Mas também fica aberto ao fato da CBA direcionar esse regulamento a eventos realizados por: CBA, FAU e Clubes.
Se você não for nenhum desses 3, esteja com o regulamento impresso quando organizar um evento como este.
O subtópico 2.1 é o que já é feito. No 2.2, acredito que exista aquela preocupação que falei no outro parágrafo do marido pegar o carro da esposa para dar uma volta e chegar com os pneus dissolvidos. Mas não é de toda ruim, você pode usar o carro da sua esposa desde que ela te autorize. O subtópico 2.3 também já é feito comumente.
Outro trecho bem polêmico. O comissário normalmente é o próprio organizador ou indicado por ele, afinal, ninguem aluga uma quadra para jogar futebol depois do trabalho e tem que se preocupar com a contratação de um juiz da CBF. Normalmente o cargo é ocupado pelo cara que não é tão bom jogador mas é muito chato com regras. Os outros desígnios também são ocupados e indicados pela organização do evento. Sinalização também sempre foi feita. Lembrando que track day não é uma prova ou corrida.
A questão principal neste ponto é que essa contratação de profissionais indicados pela FAU, aumentam os custos do evento.
Novamente voltando ao futebol depois do trabalho. Imagina como seria se toda vez que fosse jogar uma "pelada" com os amigos tivesse que dividir entre eles os custos do aluguel da quadra e a contratação de um juiz e dois bandeirinhas contratados e indicados pela CBF. Fora os custos pessoais, chuteira, uniforme, etc. A galera simplesmente trocaria o futebol por uma partida de Fifa no play 4.
Destes pontos (4, e 5), não há novidade, já que eles são executados por todos os organizadores de track day. Tanto a orientação aos pilotos quanto às vistorias neste caso designadas ao comissário técnico.
Juntei o começo do ítem 6 ao final do documento para ficar mais fácil de visualizar mas podem conferir junto ao original no link que postei.
O ítem 6 também gerou certa polêmica pois, na prática dos track day's, é comum a troca de pneus radiais por pneus slick pois como os carros são de rua, não possuem cambagem nem peso ideais para o uso em pista. Vontando ao caso do futebol, é como jogar futebol de chinelo, os radiais se desgastam prematuramente e possuem um grip baixo. O uso dos pneus slick atenua o problema do desgaste e do grip mas como o track day é apenas um evento recreativo, os praticantes compram jogos de pneus usados que são descartados por equipes de corrida.
Mas fica difícil defender a premissa da norma que diz que o uso de pneus slick só serão permitidos se estes forem novos e no caso dos radiais, bastam estar em bom estado. Voltando ao futebol, é como se para cada partida da "pelada" fosse exigido um par de chuteiras Puma novas.
Existe o receio destas regras inviabilizarem os track day's devido ao grande aumento de custos para a realização da prática. Este impacto não seria sofrido apenas por quem pratica mas também pelas próprias federações, já que como citei, os track day's dividem com as categorias muitas vezes os custos dos eventos que hoje pouco tem de onde tirar recursos.
Resta saber qual será o próximo passo a ser dado tanto pelos organizadores de track day como pelas federações e CBA para que haja um concenso.
Alguns praticantes organizaram um abaixo assinado para ser entregue à CBA para a revisão ou mesmo desconsideração das novas regras impostas pela entidade máxima do automobilismo no Brasil. Para assinar, clique aqui.
Também está sendo organizado uma petição e um abaixo assinado físico para que antes de aplicadas as novas medidas, sejam pelo menos discutidas entre organizadores e a CBA. O documento ficará na oficina Way Motorsports quem quiser fazer parte do abaixo assinado, a oficina fica localizada na Rua Itaqueri, 1268 - Mooca, São Paulo, telefone 011 2506-3230. O abaixo assinado pode ser acessado neste link.
Não vamos desistir!
1 comentários:
A regrinha dos pneus slicks é ainda mais ridícula se lembrarmos que nem na Fórmula 1, categoria suprema do automobilismo mundial, é obrigatório que pneus slicks sejam novos ao entrar na pista.
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